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o mundo, de vez em quando, é-me indiferente, são volumes e espaços que o meu corpo não compreende, aleijo-me, tenho braços e pernas cheios de nódoas negras, arranhões nas mãos, hematomas, lambo as minhas feridas, como dantes se dizia que um cão lambe as suas feridas, sei o gosto das crostas, do sangue, dos coágulos, da pele tensa sobre a dor, se houvesse deus, eu não seria mais do que um animal a passar a língua pelos joelhos, a sujidade que se acumula neles, porque estão perto da rua, do alcatrão, da terra, dos passeios, sabe-me sempre a pó a minha pele, e em pó me hei-de tornar, ou num rolo de cactos secos, no deserto dos filmes, que se move pelas ruas vazias até parar contra a parede, e um rosto surgir, mudo, como se o silêncio o abrigasse, ou fosse o tecto da casa, ou a parede que desce num movimento de braço.