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Um barco atravessa o Tejo. Vem da infância, não sei para onde vai. É branco, dessa brancura só dada às aves. O rio, que não via há tanto tempo, entra agora pelas ruas de Lisboa ao encontro da tão amada luz dos jacarandás.
Volto a ter oito anos neste jardim, vou perder-me nestas ruas, nestas calçadas, onde o grito das gaivotas sobe a rumo, vou correr com o vento de esquina em esquina, subir com as árvores, ser com elas poeira fina.
Escrevo, triste, no meu quarto quieto, sozinho como sempre tenho sido, sozinho como sempre serei. E penso se a minha voz, aparentemente tão pouca coisa, não encarna a substância de milhares de vozes, a fome de dizerem-se de milhares de vidas, a paciência de milhões de almas submissas como a minha ao destino quotidiano, ao sonho inútil, à esperança sem vestígios. Nestes momentos meu coração pulsa mais alto por minha consciência dele. Vivo mais porque vivo maior.