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Às vezes me assalta uma espécie de simpatia criminosa pelas minhas velhas paredes, meus podres alicerces: é tão bom a gente ser a mula velha que pasta o capim do hábito, ir trotando em silêncio pela estrada sabida... A burrada moça que se aventure a outras pastagens, entre abismos. Pensando bem, não perdi meu ano, pastei sem risco. Mas este "pensando bem" dura um segundo. Quem pode terminar o ano satisfeito consigo mesmo? Quem não faltou, não se esqueceu de alguma coisa, não perdeu um gesto de ouro, não renunciou a um ato de grandeza? Agora estou generalizando uma omissão pessoal, procuro arrimar-me em possíveis faltas alheias. Olha aí esse malandro diante do espelho, procurando ver outras caras no lugar da sua! Mas é tempo de parar com a eterna canção — e celebrar: os que não morremos estamos — ó milagre — vivos. Depressa, o copo, a dose dupla!
No céu é sempre domingo. E a gente não tem outra coisa a fazer senão ouvir os chatos. E lá é ainda pior que aqui, pois se trata dos chatos de todas as épocas do mundo.
Acordas-me a meio da noite, pedindo-me para não te acordar. Porque tens a impressão que vais dormir bem. Como é que eu não te matei antes? Achava-te graça. Os crimes que se evitam só porque se acha graça a alguém. Se tivesse de escolher dentre todas as coisas bonitas que se podem achar de outra pessoa, escolheria sempre a graça. Então a tua.