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Quando for grande, quero ser de outra maneira. Quero ser longe. Eu respondia: ninguém é longe. As pessoas são sempre perto de alguma coisa e perto delas mesmas. A minha irmã dizia: são. Algumas pessoas são longe. Quando for grande quero ser longe.
Caminha pelos anos pétreos, com os pés a decifrarem o empedrado e os degraus do bairro.
Ouve os próprios passos, porque sempre ouviu as pancadas do coração — por aí é que reconhece estar vivo, embora isso seja violento demais e demasiado precipitado para a verdadeira harmonia que, possivelmente, seria o estar vivo.
Mas respira, isso sim, o sangue corre pelas veias e artérias, corrompe-se e purifica-se dentro da confusa massa da sua dor de homem, e anda, ele anda, sobe, desce.
Contudo, os passos que ouve, como se fossem as pancadas fortes do seu sangue, parecem distanciar-se.
Pára.
E os passos continuam, afastando-se.
Entrei na loja de flores fronteira e comprei flores brancas. Aproximei-me da caixa com aquelas flores cujo nome ignorava, menos pesadas que os ramos de crisântemos, mas mais densas que os gladíolos, paguei com uma nota de mil yenes e pedi que mas embalassem.
Lembro-me também de ter guardado o troco no porta-moedas.
Perdi a noção do tempo e, quando a recuperei, dei por mim sentada num banco. À volta desse banco, que se recortava no meio de grandes prédios, havia árvores muito altas e frondosas que tornavam mais densa a atmosfera já escura daquele lugar.
Anoitecera e não se via ninguém. Talvez naquele mesmo banco, tivessem vindo sentar-se empregados de escritório à hora do almoço, enquanto o som alegre dos pauzinhos e dos garfos se misturava com o das conversas. Mas, agora, tudo se tornara silencioso, e nem o vento se ouvia.
Era extremamente agradável ver cair as pétalas brancas no ar da noite. As pétalas tombavam lentamente. Arrancadas uma a uma.
Havia várias flores em cada haste, e o movimento dos meus dedos aos desfolhá-las parecia não ter fim