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A constituição da mulher é desconstrução de corpo, amor dividido em dois terços longos de osso, homem ou mulher intervalado nos tecidos da substância maior. O amor liquefaz-se nas estalactites da sua boca, suspenso no calcário da saliva, interpõe-se entre o eco e a claridade húmida da língua. Os seus maxilares movem-se como guindastes, a seco, mastigam os molares em cacos de tensão. A precisão textual de cada osso é atemporal, macera-se de dentes cerrados. O cálcio arde-lhe de vermelho se o amor se alarga em massa inflamável. À mulher, outra mulher cabe-lhe na ruptura das vértebras, caule que perfura o novelo inferior do pulmão. À mulher, outra mulher cabe-lhe no abcesso do peito, metal alcalino de degustação salina. Ao amor, essa mulher chega-lhe hermética, deposta de tendões que lhe segurem a carne na vertical. À palavra, pouco lhe importa o epicentro da sílaba ou a cerâmica da tónica. Ao amor, nunca lhe satisfaz a fractura do fonema ou a dentição do silêncio. No amor, a mulher vaza inteira se a serradura lhe lacera as dobradiças do corpo. Porque na mulher, o amor não é ruído seco ou opaco, é arritmia surda no ventrículo mais defeso.