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Quando penso em ti, essa outra que eu nunca mais soube ao certo quem era, ou quem eras, em ti e em tudo aquilo que me deste, tanto que eu nunca soube onde colocar e logo vinha o vento e levava, quando penso em ti e mais em tudo o que deixaste avariado na minha vida e eram todos os pobres artefactos dela, da minha vida quando penso em ti, isto é, quando penso em nós, nessa coisa insólita e paupérrima que nós éramos, ou que nós fomos um dia, é no inferno é ainda e só e mais uma vez no inferno que eu penso — esse tempo esse calor esse frio essa espera insuportável. É no inferno que penso, mas devo reconhecer, em abono da verdade, que não era no inferno que nós estávamos, era a dois passos dele e se queres mesmo saber era agradável pela boa e simples razão de que não havia mais nada, era intensa e insuportavelmente agradável. Faltava um pouco o ar, é certo, mas quem é que se ia importar com uma coisa dessas, havia um calor que nos enregelava os ossos, havia um frio que nos aquecia. Era a dois passos do inferno — estava-se bem.