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Dança, dentro da caixa onde o tempo não passava. Movimentos suaves no recôndito espaço, toldados à sua medida. A sequência é cadenciada, envolvente e gentil outras vezes luta para se manter imóvel tendo a ânsia de atingir o pleno no caminho da lucidez com a vontade impossível de a contornar. O silêncio é apenas interrompido pelo barulho da água que salpicava o que imaginava ser o mundo lá fora. As barreiras físicas não existem naquela mente devassada pela escuridão, os pensamentos atropelam-na, os despojos do que fora transformaram-se em serenas pinturas fortalecidas. Sucumbe à música que imagina ouvir, abarca em si todos os sons, a pele reage, tudo se transforma num desassossego, num desalinho equilibrado ininterruptamente almeja entrar no ritmo em constante desafio das leis da física. Dança quando sonha. Dança.
Por vezes ouvia música. Só ela ouvia música, aliás, era ela que escolhia, mentalmente, as músicas que ouvia, ouvia secretamente essas músicas. E dançava com essas músicas, dançava com os olhos, com movimentos de cabeça, com os braços. Podia estar a ouvir pessoas e estar, ao mesmo tempo, a dançar essas músicas. Dançava, às vezes, por dentro de si mesma.