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Eram muito idosas e não tinham laços com outras pessoas, nem afectos. Pareciam ver o mundo com um cinismo bem-humorado. Tinham passado por todo o tipo de ilusões na vida e sentiam desdém malicioso e hilariante pela existência. Não toleravam as loucuras dos homens, nem se compraziam com as suas fraquezas. Havia algo de vagamente assustador naquela completa ausência de ligação a coisas humanas. Não queriam saber do amor, acabaram com a angústia da separação, a morte não as aterrorizava; só lhes sobrava o riso. (..) O riso é a única realidade.
Há um momento mesmo antes do pôr do sol em que as árvores parecem destacar-se da massa sombria da selva, transformando-se em indivíduos. Nessa altura não se consegue ver o todo por causa dos pormenores. Naquela hora mágica, as árvores parecem adquirir uma vida diferente, não sendo difícil imaginar que são habitadas por espíritos e que, chegando o crepúsculo, terão a capacidade de mudar de lugar. Sente-se que a dada altura lhes acontecerá alguma coisa estranha e que serão sujeitas a uma transfiguração prodigiosa. Sustemos a respiração à espera de uma maravilha, e o nosso coração, só de pensar nela, inflama-se como uma espécie de impaciência apavorada.