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Ao domingo, justamente, a cidade está aqui,
mas não existe. Há quem fique para trás
na agitação da fuga, ocupando por exemplo
uma horta varrida pela auto-estrada.
No princípio era apenas uma hipótese
remota, um conjunto de raízes (não se sabe
o número exacto) a descer por uma rocha.
Felizmente, verde-terra e massicote,
misturados na paleta, dão um verde gracioso.
Pacotes de sementes para um jardim
podem desencadear uma avalanche. Olhai bem
para ele agora. O que vai fazer com tudo isto?
Alface, pimentos, batatas, perguntas
de resposta múltipla sobre auto-estima.
Perdida no inferno dos subúrbios,
a horta faz parte de um plano maior:
trazer o tubarão a superfície, encontrar
no viaduto uma espécie de refúgio, conseguir
escapar à morte no centro comercial
É claro que me lembro. Havia dois atalhos
pelo meio do pinhal, direcções espantosamente
precisas, animais que não voltei a ver.
Enquanto as colheitas amadureciam nos campos,
havia talismãs pendurados nas árvores e mercúrio
para tratar certas lesões, uma peça vital
do equipamento. Havia girassóis à volta da casa
e as palavras imortais dos espantalhos, uma forma
de evitar que endoidecêssemos. E havia um muro
que era preciso saltar, a manhã gloriosa
da escalada, a ciência das grandes migrações.
Mas não vale a pena entrar em mais detalhes.
Este é o meu corpo. Esta é a minha mente.
Conhecem-se desde a infância e cumpriram pena juntos.
Do futuro nada sei. Apenas que vem aí.